sexta-feira, 17 de maio de 2013

As máquinas podem acabar com o trabalho humano?

Esta postagem do Slashdot é provocativa: professor Moshe Vardi da Rice University faz uma previsão de que até 2045 praticamente todo o trabalho humano será substituído pelas máquinas. 

Fonte: Wikipédia

Vardi considera que, com os avanços da inteligência inteligência artificial, as máquinas poderiam combinar a força mecânica e o intelecto digital para serem trabalhadores mais eficientes que os humanos, fato que poderia causar uma mudança no mundo ainda mais profunda do que a Revolução Industrial. A destruição de postos de trabalhos pela mecanização não é uma novidade, mas segundo a sua projeção, atingiria um ponto em que não restaria mais ocupação laboral para a nossa espécie. 

Ele indaga, se as máquinas vão fazer todo o tipo de trabalho, o quer restaria para nós? Na visão dele, as pessoas não conseguiriam viver apenas do lazer, pois o trabalho é algo indispensável para o bem estar humano. Além disso, a economia teria que mudar radicalmente, para sustentar 9 bilhões de pessoas apenas praticando o lazer. Sua conclusão é de que, embora muito se tenha discutido sobre a possibilidade de dotar inteligência às máquinas, chegou o momento para começar a discutir quais as consequências do seu uso. 

Século e meio atrás, Karl Marx já descrevia o contínuo processo de substituição do trabalho braçal por máquinas, na consolidação do processo conhecido por Revolução Industrial. Entretanto há um motivo para esta substituição, pois os donos de capital (chamados hoje de empreendedores), para aumentar sua taxa de lucros, teriam que se apoiar na Ciência e na Tecnologia. Com isto diminuem-se as despesas, especialmente a remuneração da força de trabalho, incrementam-se a produtividade e tornam-se mais competitivos. Porém surge uma contradição nesse processo: os capitalistas precisam produzir mercadorias com o menor custo possível e vender pelo maior preço que puder; por outro lado, os compradores, em sua grande parte, são remunerados pelo seu emprego. Se todos os empregos desaparecerem, não haveria mais compradores. A economia, do jeito que está organizada nos tempos modernos, entraria em total colapso.

Tal fato por si não é necessariamente ruim; o ser humano não necessitaria mais trabalhar para obter as mercadorias para satisfazer suas necessidades. Um emprego menos "nobre" não significaria uma vida mais restritiva, nem a falta de emprego teria como consequência a exclusão do indivíduo do consumo. O problema é que a sociedade não está organizada assim, e não parece razoável pensar que poderá se adaptar em 30 anos;  a mudança cultural seria brutal e alguns poderosos interesses seriam contrariados. Seria ingenuidade pensar que tal revolução das máquinas poderia ocorrer de forma inexorável e pacífica; o maior empecilho seria a própria teia de relações sociais pré-existentes.

Não faz sentido dizer que as máquinas irão fazer tudo e, como consequência, o ser humano não irá mais trabalhar. Trabalho não é sinônimo de emprego. Trabalho é toda a atividade humana que serve para construir e reconstruir a humanidade, tanto individualmente como socialmente. As máquinas abrem possibilidades que antes eram inatingíveis, mas não impede que o ser humano continue produzindo a sua existência, seja fisicamente ou racionalmente. Esta produção é coletiva e envolve tanto aspecto material, como imaterial. Hoje já não seria necessário cortar, costurar e bordar uma peça de roupa, pois há máquinas que fazem todas as etapas. Porém uma peça de roupa não é só uma porção de pano cortado e costurado para abrigar nosso frágil corpo; ela carrega toda uma simbologia que serve como uma forma de comunicação entre as pessoas, além de ser uma expressão estética que pode causar várias sensações para quem a veste.

Podemos delegar o trabalho para as máquinas, mas não vejo como delegar a elas nossos desejos, sonhos, necessidades e angústias. As máquinas não se destinam a se tornarem humanos; elas são produtos humanos que servem para gerar uma nova humanidade. Para o bem ou para o mal. 

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